quarta-feira, 2 de junho de 2010

intensidade.

Hoje tive um dia fora do comum. Na verdade ontem. Na verdade essa semana tem sido diferente, ocupações novas, demandas novas, banco de estímulo renovado, mas algo em especial anormal.
Atendi um paciente soropositivo no consultório. Ontem ele mesmo me contou sob orientação médica. Minha primeira reação foi tentar reagir normalmente. Incrível como nessas horas tentar e acreditar na tentativa funciona.
Minha segunda reação foi ficar nervosa e correr imediatamente pra fazer um exame de HIV. Afinal, já atendia ele há tempos, era pelo menos a 5ª consulta dele. Nunca me expus ao risco, sempre sou cuidadosa com a biossegurança, mas o medo quando se está nessa situação é inevitável, é automático e involuntário, pelo menos quando a situação está acontecendo pela primeira vez.
Nunca senti tanta tensão e medo em 5 minutos de espera por um resultado de exame. Felizmente não tive surpresas desegradáveis. Daí veio a terceira reação: pensei no meu paciente, em como ele é uma pessoa boa, em como estava tentando mudar (ele faz parte de um centro de recuperação de drogas), em como sempre me tratou bem, em como já vivi coisas diferentes atendendo ele (como faltar energia durante uma extração, e eu continuar o procedimento com a luz do meu celular). Senti uma coisa horrível, mas ao mesmo tempo inevitável (de novo): pena.
Hoje atendi ele novamente. Dentre vários procedimentos que eu tinha a fazer, escolhi extrair um dente que precisava ser extraído. Mostrei pra ele que não tinha preconceito e que não deixaria de continuar o tratamento dele por causa daquilo. E mostrei pra mim mesma que não precisava ter medo, que era um paciente como outro qualquer, e que eu não tinha diferenciação a fazer no atendimento. Era a biossegurança padrão.
Nunca imaginei que em apenas 5 meses de formada viveria situações tão intensas como as que acontecem aqui em São Miguel do Guamá. Cada dia é um dia cheio de aprendizados.

Um comentário:

Estuda, Doido! disse...

Deve ser uma situação difícil. Se pra ti já é um sentimento meio complicado de lidar com um paciente, imagine eu como Psicólogo. Espero um dia ter a chance de viver uma experiência assim. Faz parte da profissão.

Eric